Um pouco de história

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de pele é o tipo de displasia mais comum no mundo. Isto também ocorre no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de pele corresponde a aproximadamente 31.2% de todos os tipos de câncer diagnosticados no país. No Espírito Santo os números são ainda maiores, segundo o INCA o câncer de pele corresponde a cerca 41% de todos os tipos de câncer diagnosticados no estado.

Um dos principais fatores para essa alta incidência é a grande imigração europeia, principalmente da Pomerânia (uma região situada entre a Alemanha e a Polônia), que ocorreu no estado ao longo do século XIX. A grande maioria dos imigrantes se estabeleceram em cidades do interior do estado. Eram pessoas de pele bem clara e tinham a agricultura familiar como principal meio de sobrevivência. Após mais de um século, essas características se mantiveram. Com isso, o tempo excessivo de exposição ao sol demandado pela atividade no campo, aliado ao fenótipo comum da pele clara, contribui para a grande incidência de câncer de pele nesta população. Os milhares de descendentes dessa imigração ainda não são adaptados ao clima tropical brasileiro, o que resulta no diagnóstico de inúmeros casos de lesões de pele registrados no estado ao longo dos anos.

Em 1987, um grupo de professores e alunos do Departamento de Medicina Especializada da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) identificou uma alta incidência de câncer de pele em descendentes de pomeranos em diferentes municípios Capixabas. Sendo grande parte desta comunidade, cidadãos de baixa renda que não são capazes de arcar com os custos de um tratamento para a doença, os professores criaram o Programa de Assistência Dermatológica aos Lavradores Pomeranos do Espírito Santo (PAD-UFES), que passou a atender essa população de forma gratuita e na região em que residem. Em outras palavras, os professores democratizaram o atendimento ao levar o ambulatório da universidade de Vitória (capital do estado) para diversos municípios do interior. Mais de 30 anos depois o projeto continua ativo e já faz parte da história e da cultura do estado. Milhares de pessoas já foram e continuam sendo assistidas pelo projeto.

O PAD-UFES hoje

O PAD continua sendo um programa de extensão da UFES, porém, depois de mais de 30 anos, o programa cresceu e melhorou bastante. Todavia, a essência continua a mesma: prestar assistência gratuita e completa – desde triagem, cirurgia e biópsia, se necessário – para qualquer pessoa, não apenas os pomeranos, com algum tipo de lesão de pele. O programa atua em 12 municípios capixabas, em sua maioria áreas rurais e remotas, e atende cerca de 4.000 pacientes anualmente. Para uma grande parcela destes pacientes, o programa é a única forma de obter algum tipo de assistência dermatológica. Neste sentido, o PAD presta um serviço fundamental para milhares de pessoas, principalmente, aquelas mais vulneráveis socialmente que não são capazes de arcar com um tratamento de saúde privado.

A abordagem do programa é realizada em viagens com duração de 2 a 3 dias no final de semana para diversas localidades no interior do estado – veja a agenda completa de viagens acessando a aba calendário. Durante as viagens, os pacientes são atendidos por uma equipe de médicos, enfermeiros, alunos e diversos tipos voluntários vinculados a diversas instituições, como a UFES, os municípios atendidos, governo do estado, instituições privadas e religiosas.

Para que tudo ocorra de maneira adequada, o programa demanda o esforço de centenas de pessoas, além de uma organização logística complexa. Em todas as viagens, a equipe do PAD desloca diversos tipos de equipamentos e materiais para montar um ambulatório completo (incluindo um mini centro cirúrgico), com capacidade de atender centenas de pacientes em poucas horas.

Frentes de atuação

O programa é constituído por quatro frentes:

  • Dermatologia: é responsável pelo atendimento clínico de todos os pacientes que comparecem ao projeto. Os pacientes são triados e, se necessário, encaminhados para a cirurgia plástica.
  • Cirurgia Plástica: é responsável pela realização de pequenas e médias cirurgias com o objetivo principal de exérese de lesões malignas de pele.

  • Patologia: é responsável pela análise das biópsias das lesões que sofrem intervenção cirúrgica durante as viagens.

  • Tecnologia da Informação: é responsável por toda a parte tecnológica do PAD, como o desenvolvimento e manutenção do software de gerenciamento de todos os dados do programa. Essa área cresceu bastante nos últimos anos e se tornou um projeto próprio, o Padtech.

Mini-documentário sobre o PAD

Em 2018, a TVE fez um pequeno documentário para divulgar a atuação do PAD. O programa está disponível no YouTube e se você tem interesse em saber mais sobre o projeto, vale muito a pena assistir: